Levanta a mão quem sabia que é possível sentir prazer e até mesmo ter orgasmos durante o parto? Chega mais pra saber!
Ao lermos relatos de parto de
mulheres que vivenciaram uma assistência humanizada, não é incomum mulheres que
relatam o momento sem dar ênfase à dor, ou contam a experiência como um momento
de prazer, crescimento, transcendência, entrega, além e apesar da dor. Porém,
infelizmente, esses relatos ainda causam estranheza diante de grande parte da
sociedade, onde parto ainda é sinônimo de dor e sofrimento.
Vivemos em uma sociedade
patriarcal, culturalmente machista, falocêntrica e opressora dos desejos
femininos, principalmente quando falamos em sexualidade. Desde pequenas somos
ensinadas como nos portar, a reprimir nossas pulsões e sensações. Não podemos
nos tocar, é feio. É sujo. O resultado é
que crescemos sem conhecer e entender as capacidades e prazeres que nosso corpo,
inclusive aquelas vindas do nosso útero, outrora tão conhecidas. Criamos,
então, mulheres desconectadas com o próprio corpo, com o verdadeiro feminino.
Mas é impossível fazer de
gravidez parto, amamentação, sem falarmos em sexualidade. Todos são processos
intensos e intimamente ligados a sexualidade, não apenas por se situarem no
mesmo local. Compartilham musculaturas, terminações nervosas, hormônios, sendo
o principal e mais conhecido, a Ocitocina, também conhecida como “hormônio do
Amor”, por estar presente em todas as relações humanas que envolvem
sentimentos, e nas relações sexuais e orgasmo. Ocitocina está presente no
momento do parto, levando as contrações uterinas, na amamentação, na ejeção do leite,
e nos vínculos formados ao longo da vida.
E aí chegamos ao Parto Orgásmico.
É possível, além da ressignificação da dor, sentir prazer ao parir? Um orgasmo?
Ao conseguirmos voltar nosso olhar ao processo como parte da sexualidade
humana, como já descrito acima, é possível entender como esse prazer poderia
acontecer. Mas para além desse olhar, precisamos recuperar nosso feminino, o
conhecimento de nosso corpo, nossos prazeres. É preciso entender o parto como
um processo fisiológico e se permitir viver esse processo. Liberar o corpo ser
livre para sentir.
É possível se preparar para um
parto orgásmico? O primeiro passo é se livrar de cobranças e expectativas. Tudo
que possa gerar tensões. Assim como no sexo, este é um momento de intenso
relaxamento, o pico máximo de prazer feminino após um estímulo. A diferença
entre dor em prazer no parto está, também, diretamente ligada à liberdade que a
mulher tem em relação ao local de parto, à equipe, aos acompanhantes. Mulheres
que são se encontram em um ambiente acolhedor, aconchegante, que lhe permite
estar relaxada e conectada consigo mesma e com seu corpo tem maiores chances de
alcançá-lo. Por isso uma equipe bem preparada e um ambiente adequado fazem toda
a diferença no processo de parturição. Se entregar ao processo, respeitar as
sensações e “pedidos” do corpo também são importantes para que se possa
alcançar um estado de relaxamento capaz de proporcionar prazer. Prazer este que
não é causado apenas pela passagem da cabeça do bebê no canal vaginal, mas por
toda “explosão” hormonal, movimentos musculares e estímulos nervosos.
O mais importante, e lição que
acredito que devemos levar de tudo isso, é entender a importância de resgatarmos
o poder do feminino, a força do nosso útero, uma força transcendental, que
atravessa gerações de mulheres. Conhecer o próprio corpo, o que lhe dar prazer.
Se empoderar na construção do parto, para que seja um momento de respeito, de
protagonismo, de segurança, em que possa, enfim, se entregar as maravilhosas
sensações que a “partolândia” pode trazer.
”
Sinto que Victor entrou na água, e me puxa pra apoiar nele. Me entrego, relaxo.
Consigo respirar e voltar a concentrar. SAI, JOANA! Falo, e escuto risos. E a
cabecinha sai. Ah! Fico ali, acariciando a cabecinha enquanto ainda não consigo
acreditar. (...) Não sei dizer quanto tempo estivemos assim. Sinto Joana
mexendo dentro de mim. Me dá muito nervoso aquela sensação. Porque não sei
explicar o que sinto. Sinto todo meu corpo respondendo àqueles movimentos,
àquela sensação. Cada músculo. (...) Caraca, que é isso? Como descrever? Apenas
sentir.”
Nascimento
Joana – PDAC (Parto Domiciliar após cesarea)
Luciana Morais
Enfermeira Especialista em Saúde Materno Infantil e Aleitamento Materno
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