Com a
descoberta de uma gestação ou a chegada de um bebê, muitos casais que têm pets
em casa se veem numa situação complicada: “E agora? Vou ter que doar meu
bichinho!” Por influência das falas de amigos, familiares e até sob orientação
médica, alguns se desfazem mesmo de seus companheiros de longa data... Isso
acaba por gerar um clima de muita tristeza num momento que deveria ser de
extrema felicidade. Ademais, cães, gatos e até pets exóticos como coelhos e
algumas aves desenvolvem laços afetivos muito fortes com seus tutores e essa
separação é extremamente dolorosa para eles também. Mas será que é mesmo
necessário se desfazer do bicho? É seguro que a gestante e, posteriormente, a
criança tenham contato com animais de estimação?
As
respostas para essas perguntas parecem muito claras, mas ainda há muita
insegurança em torno dessa questão. E eu digo que sim, é absolutamente seguro
para gestantes, crianças e até bebês terem bichinhos em casa. Não só é seguro,
como pode ser extremamente benéfico para a saúde de toda a família, tanto
física quanto emocional. Animais são seres fantásticos e podem surpreender na
presença de uma gestação ou de um bebê, demonstrando comportamentos protetores
e de carinho. Além disso, a relação com um bichinho desde bem cedo na infância
proporciona grandes oportunidades de aprender sobre respeito aos outros seres,
empatia e noções de responsabilidade, cuidado com a vida e o meio ambiente.
É
muito importante, porém, que alguns cuidados sejam observados e algumas
“lendas” sejam desmistificadas:
- Essencial colocar as vacinas
em dia e certificar-se de que não apresentem parasitoses intestinais, pulgas, carrapatos,
piolhos e doenças de pele como sarnas e fungos;
- Todos os animais que têm
contato com gestantes e crianças devem ser totalmente domiciliados. Aliás, até
os que não têm contato, né? Rua não é lugar de bicho! Por isso, nada de
“voltinhas” sem supervisão (pode passear! Só não pode ficar dando rolezinho
sozinho). Isso evita que eles tenham contato inadvertido com situações que vão
trazer problemas para dentro de casa;
- “Gato transmite
toxoplasmose!” Bom... Sim e não. Gatos podem ser, de fato, hospedeiros do Toxoplasma
gondii e responsáveis em parte por perpetuar a doença no ambiente. Porém,
para se infectar, o gato precisa comer uma caça contaminada (ratinho,
passarinho – a história ali de cima do bicho que sai para a rua, ó) e caso se
infecte, ele só vai eliminar os oocistos nas fezes durante poucos dias em toda
a vida dele. Além disso, esses oocistos, para se tornarem infectantes, precisam
permanecer no ambiente por mais de 24 horas e, para nos contaminarmos,
precisamos ingeri-los. Ou seja, muito improvável pegar toxoplasmose de um gato
se a higiene da caixinha for feita com frequência e lavando bem as mãos depois.
A maneira mais fácil de pegar toxoplasmose é – pasmem – comendo carne mal
passada e verduras mal lavadas!
- “Ah, mas os pelos/penas vão
causar alergia”. Pelos e penas só causam alergias naqueles que são alérgicos a
eles. Nem todos vão desenvolver alergias e só testando mesmo para saber.
Geralmente, essas reações são brandas e tendem a desaparecer com o contato.
Algumas pessoas até apresentam alergias gravíssimas, o que é sim um problema,
mas felizmente esses casos são bem raros. No entanto, estudos mostraram que
crianças que tiveram íntimo contato com animais no seu primeiro ano de vida,
têm metade da chance de desenvolverem episódios alérgicos depois de mais velhas
do que crianças que não tiveram esse contato.
- É importante monitorar o
contato das crianças muito novinhas com os animais, principalmente os de porte
pequeno e os filhotes. Na fase em que os bebês já estão engatinhando e têm mais
curiosidade, eles podem segurar com força, puxar os rabinhos, arrancar pelos e
colocar a mãozinha nos olhos dos bichinhos, o que pode machucá-los gravemente.
Além disso, a ação da criança pode se converter em uma mordida, um arranhão ou
uma bicada como defesa.
Enfim, meu conselho final é:
quem já tem um ou mais pets em casa, ao confirmar uma gestação e antes de
receber o bebê em casa, consulte um médico veterinário de sua confiança. Por
mais que o seu médico esteja ali para cuidar de você e só quer o seu bem e o da
sua família, o veterinário é o médico do seu bichinho e o profissional mais
capacitado para falar sobre saúde e comportamento animal. Além disso, estudamos
saúde pública e zoonoses também! Estamos prontos para orientar e tirar todas as
dúvidas a respeito do assunto. Observados os cuidados com higiene e segurança,
essa relação só vai trazer benefícios a todos os envolvidos e gerar muitos
momentos legais, dignos de vídeos e fotos para guardar por toda vida!
Lígia de Morais Gomes
Médica Veterinária - CRMV-MG12665
@ligia.acupet