São meses de mimos, de muita atenção recebida, de cuidados. A barriga crescendo, bebê mexendo. Enjoos, dores, mal estar - tem também. Mas ah, que é isso perto das delicias de se estar grávida (pelo menos pra grande parte das mulheres, né, pois sabemos que nem todas se sentem bem durante a gestação, e isso é ok, não tem nada de errado em não se sentir maravilhosa grávida). Ai nasce o bebê. O parto dos sonhos. Ou não. Aquele bebê pequetito no colo, põe no peito, que coisinha mais linda, nossa, ninguém disse que era difícil! Cadê todas as atenções que eu tinha até uns dias atrás? Ah, agora são todas desse serzinho fofucho aqui. Hello, tô aqui!!
Bem vindas ao Puerpério!
"Alice não teve um segundo para pensar em parar antes de se ver despencando num poço muito fundo. Ou o poço era muito fundo, ou ela caía muito devagar [...] Caindo, caindo, caindo. A queda não terminaria nunca? 'Quantos quilômetros já cai até agora?' [...] Caindo, caindo, caindo."
Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll
Sempre que me pego pensando sobre o puerpério, me vem a cabeça o trecho da história da Alice onde ela cai ao entrar na toca do coelho. Um túnel longo, que não vemos o fim, escuro, onde vamos caindo, sozinhas, sem saber onde chegaremos ou como chegaremos. Vemos tudo passando ao nosso redor, mas como se estivéssemos alheias. Muitos são os momentos em que a sensação é que não sairemos dali nunca. Será possível haver luz no fim do túnel? muito choro, misto de sentimentos muitas vezes opostos e confusos. Será que tem algo errado comigo?
Bem vindas ao Puerpério!
Ao contrário do que muita gente pensa, ao falarmos de puerpério, não estamos falando apenas daquelas semanas logo após o parto onde nosso corpo se recupera e nos adaptamos a nova rotina com o bebê. Esse momento vai muito além. É um contínuo desconstruir e reconstruir, onde reaprendemos a viver, nosso lugar no mundo, quem somos. É o luto pela morte da mulher que éramos e renascimento de uma nova mulher, agora também mãe. E esse processo não poderia ser fácil. É doloroso. Mas é essencial que toda mulher possa viver seu puerpério em toda suas particularidades. É dele que sairemos mais fortes e reconstruídas, prontas para a nova vida que nos aguarda.
Para que a mulher possa viver esse momento de forma plena é preciso que ela possa se sentir segura para mergulhar fundo, sem medo, a fusão emocional com seu bebê, passando por todas alterações físicas, emocionais, psicológicas e de rotina que esse momento traz. A nova mãe não precisa de alguém que fique com o bebê para ela fazer as coisas em casa. Ela precisa de alguém que a ajude com a casa e outros afazeres para que ela possa se entregar inteiramente a esse momento. Por isso uma rede de apoio forte e organizada é fundamental para um puerpério saudável.
Durante cerca de 2-3 semanas pós parto grande parte das mulheres vivenciarão o que chamamos "Blues puerperal" ou "Baby Blues", que é uma melancolia pós parto, que pode ser confundida muitas vezes com uma depressão, ou mesmo frescura da mulher. Isso acontece devido a queda hormonal e é passageiro.
Mas cuidado, mesmo que o puerpério seja um período intenso na vida da mulher, que o baby blues existe, não podemos esquecer que algumas mulheres precisarão de uma atenção maior para conseguirem lidar com as mudanças na vida. Então mais uma vez a rede de apoio pode ser o diferencial na vida dessa família. Depressão pós parto é um problema real, sério, e muitas vezes jogado para debaixo do tapete da sociedade. Então se a nova mãe, ou quem está perto perceber que algo pode não estar caminhando tão bem, não hesitem em buscar uma ajuda profissional qualificada.
As mães também precisam ser cuidadas e acolhidas, não apenas os bebês!
*As fotos mostram algumas das várias faces do meu 3º puerpério: o mais longo e desafiador!
Luciana Morais
Enfermeira, especialista em Saúde Materno Infantil
Mãe do Arthur, da Alice, da Joana e de um anjinho no céu.