quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Gestantes e Bebês X Pets


 

Com a descoberta de uma gestação ou a chegada de um bebê, muitos casais que têm pets em casa se veem numa situação complicada: “E agora? Vou ter que doar meu bichinho!” Por influência das falas de amigos, familiares e até sob orientação médica, alguns se desfazem mesmo de seus companheiros de longa data... Isso acaba por gerar um clima de muita tristeza num momento que deveria ser de extrema felicidade. Ademais, cães, gatos e até pets exóticos como coelhos e algumas aves desenvolvem laços afetivos muito fortes com seus tutores e essa separação é extremamente dolorosa para eles também. Mas será que é mesmo necessário se desfazer do bicho? É seguro que a gestante e, posteriormente, a criança tenham contato com animais de estimação?

As respostas para essas perguntas parecem muito claras, mas ainda há muita insegurança em torno dessa questão. E eu digo que sim, é absolutamente seguro para gestantes, crianças e até bebês terem bichinhos em casa. Não só é seguro, como pode ser extremamente benéfico para a saúde de toda a família, tanto física quanto emocional. Animais são seres fantásticos e podem surpreender na presença de uma gestação ou de um bebê, demonstrando comportamentos protetores e de carinho. Além disso, a relação com um bichinho desde bem cedo na infância proporciona grandes oportunidades de aprender sobre respeito aos outros seres, empatia e noções de responsabilidade, cuidado com a vida e o meio ambiente.

É muito importante, porém, que alguns cuidados sejam observados e algumas “lendas” sejam desmistificadas:

- Essencial colocar as vacinas em dia e certificar-se de que não apresentem parasitoses intestinais, pulgas, carrapatos, piolhos e doenças de pele como sarnas e fungos;

- Todos os animais que têm contato com gestantes e crianças devem ser totalmente domiciliados. Aliás, até os que não têm contato, né? Rua não é lugar de bicho! Por isso, nada de “voltinhas” sem supervisão (pode passear! Só não pode ficar dando rolezinho sozinho). Isso evita que eles tenham contato inadvertido com situações que vão trazer problemas para dentro de casa;

- “Gato transmite toxoplasmose!” Bom... Sim e não. Gatos podem ser, de fato, hospedeiros do Toxoplasma gondii e responsáveis em parte por perpetuar a doença no ambiente. Porém, para se infectar, o gato precisa comer uma caça contaminada (ratinho, passarinho – a história ali de cima do bicho que sai para a rua, ó) e caso se infecte, ele só vai eliminar os oocistos nas fezes durante poucos dias em toda a vida dele. Além disso, esses oocistos, para se tornarem infectantes, precisam permanecer no ambiente por mais de 24 horas e, para nos contaminarmos, precisamos ingeri-los. Ou seja, muito improvável pegar toxoplasmose de um gato se a higiene da caixinha for feita com frequência e lavando bem as mãos depois. A maneira mais fácil de pegar toxoplasmose é – pasmem – comendo carne mal passada e verduras mal lavadas!

- “Ah, mas os pelos/penas vão causar alergia”. Pelos e penas só causam alergias naqueles que são alérgicos a eles. Nem todos vão desenvolver alergias e só testando mesmo para saber. Geralmente, essas reações são brandas e tendem a desaparecer com o contato. Algumas pessoas até apresentam alergias gravíssimas, o que é sim um problema, mas felizmente esses casos são bem raros. No entanto, estudos mostraram que crianças que tiveram íntimo contato com animais no seu primeiro ano de vida, têm metade da chance de desenvolverem episódios alérgicos depois de mais velhas do que crianças que não tiveram esse contato.

- É importante monitorar o contato das crianças muito novinhas com os animais, principalmente os de porte pequeno e os filhotes. Na fase em que os bebês já estão engatinhando e têm mais curiosidade, eles podem segurar com força, puxar os rabinhos, arrancar pelos e colocar a mãozinha nos olhos dos bichinhos, o que pode machucá-los gravemente. Além disso, a ação da criança pode se converter em uma mordida, um arranhão ou uma bicada como defesa.

Enfim, meu conselho final é: quem já tem um ou mais pets em casa, ao confirmar uma gestação e antes de receber o bebê em casa, consulte um médico veterinário de sua confiança. Por mais que o seu médico esteja ali para cuidar de você e só quer o seu bem e o da sua família, o veterinário é o médico do seu bichinho e o profissional mais capacitado para falar sobre saúde e comportamento animal. Além disso, estudamos saúde pública e zoonoses também! Estamos prontos para orientar e tirar todas as dúvidas a respeito do assunto. Observados os cuidados com higiene e segurança, essa relação só vai trazer benefícios a todos os envolvidos e gerar muitos momentos legais, dignos de vídeos e fotos para guardar por toda vida!


Lígia de Morais Gomes

Médica Veterinária - CRMV-MG12665

@ligia.acupet