Mais uma Semana Mundial do Aleitamento Materno chega ao fim, com manifestações lindas em todo país, porém o Agosto Dourado continua! Pensando em como finalizar a semana (com uns dias de atraso), lembrei de um texto que escrevi a um tempo, para o blog do Padecendo no Paraiso (Postagem Original), e creio que tem muito a ver com o tema da SMAM!
AMAMENTAÇÃO: É papel de todos apoiar
Há cerca de 60-70 anos, o desenvolvimento tecnológico voltado a facilitar a vida das pessoas, as mudanças no papel da mulher e no estilo de vida das pessoas contribuíram para o aumento na utilização de mamadeiras e leites artificiais na alimentação das crianças, em detrimento do aleitamento materno. Houve um período, inclusive, que esse leite era distribuído por programas de assistência. Na década de 80 começam a surgir os programas que buscam resgatar o aleitamento materno no Brasil. Entretanto, ainda hoje vivemos os reflexos daquela cultura: o Brasil apresenta uma média assustadoramente baixa de 54 dias de aleitamento materno exclusivo, quando o ideal preconizado são 6 meses, e menos de 1 ano de aleitamento total, sendo que deveria seguir até 2 anos de idade ou mais, segundo a OMS. Veja o estudo completo aqui
Atualmente existem diversos programas que visam à conscientização da importância do aleitamento materno, inclusive proteção legal, com a NBCAL e a lei que protege mães que amamentam.
Porém, na prática, as coisas não são tão simples...
Sabemos que o aleitamento materno deve ser mantido de forma exclusiva para bebês até os 6 meses de idade, mas como é possível se temos uma licença maternidade de apenas 4 meses? Como garantir que essas mães sejam capazes de voltar a trabalhar e ainda assim amamentar seu bebê em livre demanda?
Mesmo com os intervalos preconizados por lei (2 intervalos de meia hora ao longo do dia), a prática, em sua maioria, não permite que aconteça da melhor forma e mutias mães acabam introduzindo outros tipos de leite ou mesmo alimentos precocemente a seus bebês. Começa ai, muitas vezes, o caminho para um desmame precoce.
Mães que trabalham longe de casa, serviços exaustivos e pesados, que acabam dificultando uma ordenha adequada, bebês que vão pra creches e escolinhas (muitas que não recebem o LM)... A luta pelo aumento da licença maternidade (e paternidade também porque, cá pra nós, 5 dias corridos e nada é quase o mesmo, né?) é uma que eu espero que, em breve, possamos vencer. Existe um benefício para empresas que aumentarem a licença para 6 meses, mas a adesão é facultativa.
E o que eu, você, e todo mundo tem a ver com isso? TUDO! O sucesso do aleitamento depende de uma rede de apoio firme e segura. É preciso conscientizar mães, pais, avós, tios e todos que estão envolvidos da importância de estar ao lado, não deixar desistir a primeira dificuldade.
Hoje percebo ser muito fácil dizer "ah, mas dá uma mamadeira que resolve", "pra que insistir?", "os leites são muito bons hoje em dia, dá na mesma".
Realmente dá na mesma? Não dá. Ainda bem que hoje podemos contar com fórmulas excelentes, capazes de suprir bem as necessidades nutricionais dos bebês para queles que, por algum motivo, não puderam ser amamentados. E realmente existem situações em que o aleitamento materno não será viável. São poucas, mas existem.
Acontece que hoje a quantidade de mulheres que não conseguem ou não podem amamentar parece ser maior que as que obtém sucesso na amamentação. Será que o problema é mesmo a mulher? É preciso lutar contra a banalização da suplementação artificial. Não é que não se deve dar nunca, e sim prescrita com critério, dando-se preferencia, sempre, a reforçar o estímulo a amamentação, a produção materna, complementação com o próprio leite da mãe. Infelizmente, muitas vezes, esse reforço é visto coma radicalismo, exagero, desnecessário. Simplesmente porque é mais fácil dar uma mamadeira que apoiar, incentivar, ouvir, estar à disposição. Requer paciência, esforço, tempo...
E ai chegamos às campanhas. Qual a importância delas? Já sabemos um pouco como a história contribuiu neste quadro e da importância da rede de apoio para a mulher. Mas mesmo assim ainda vemos muita gente que acredita que o aleitamento materno não possui tantos benefícios assim. Vemos profissionais que continuam orientando de forma errônea, contra as orientações de entidades nacionais e internacionais de saúde. Vejo mães que sofrem por ainda acreditarem em mitos (que são muitos) em torno da amamentação, e acabam agindo de forma não favorável. Muitas vezes substituindo o leite materno por fórmula por motivos irreais. As campanhas são de extrema importância para a promoção do aleitamento materno, difundir as boas práticas, desmistificar, e ressaltar a importância e benefícios da prática. Informação! Esse é o ponto chave, a meu ver, das campanhas. Informação. Como podemos fazer escolhas ou tomar atitudes se não temos informações adequadas a respeito? E não existe forma melhor de passar esse conhecimento adiante que através de campanhas, como a Semana Mundial de Aleitamento Materno onde, inclusive, artistas conhecidos participam, uma vez que são grandes formadores de opinião.
Muitas são as iniciativas em prol do aleitamento materno - ONGs, bancos de leite, grupos de apoio e e programas governamentais. Se não existisse todo esse movimento, como conscientizar a sociedade sobre a importância da amamentação? Mães que amamentam de forma prolongada (2 anos ou mais), o mesmo que passam dos 12 meses de aleitamento passam por situações muitas vezes desconfortáveis, por estarem com uma criança que, na cabeça das pessoas, já está grande ou passou da idade para estar ao peito.
Mães que, como eu, amamentam seus pequenos (2 anos, 4 meses e contando) onde quer que estejam, enfrentando comentários indiscretos e olhares críticos, seja na rua, na família ou onde estiver, carregados da ideia que o leitem materno perde suas propriedades após determinada idade, sobre o comportamento ser inapropriado e a "dependência" de ambos. Ué, mas desde quando bebês são independentes?
O contrário da não amamentação, o aleitamento prolongado, também é um assunto que requer maior visibilidade por parte da população, uma quebra de tabus. Quantas histórias de desmame por pressão social, da família ou profissional vemos por ai, quando a mulher não queria realmente levar esse desmame? Desmame, esse, muitas vezes abruptos e traumáticos às crianças (e às mães também). Não podemos esquecer que amamentar é um ato fisiológico, natural, que nutre nutricional e emocionalmente bebês e crianças. É preciso reforçar a capacidade da mulher/mãe em nutrir seu bebê, em oferecer o melhor para ambos, e que não se deve desistir frente a primeira dificuldade. Pois elas existirão, sempre. Independente da situação. Com elas crescemos, aprendemos, revemos atitudes. E se, por algum motivo, nos vermos diante de um impedimento real, tenhamos a consciência tranquila, uma vez que somos capazes de fazer o que de melhor está a nosso alcance para nossos bebês e nós mesmas.
Acolhimento e sensibilidade são fundamentais nesse mundo da maternidade, principalmente quando falamos em AMAmentação.
*Atualizando
Alice (na época 2 anos e 4 meses) mamou até 3 anos e 11 meses, quando desmamou de forma natural e tranquila, apoiada por mim a todo instante. Hoje amamento Joana, de forma exclusiva, há 4 meses.